terça-feira, 14 de abril de 2015

Educação X Escolarização

https://youtu.be/FNEN3eJ8_BU
Educação x Geração High-tech
Nildo Lage

Muitos insurrecionaram. Outros ainda afrontam... Não tiveram alternativas. Cederam aos seus fascínios a ponto de estar conectado tornar-se imprescindível para promover o equilíbrio e ostentar a existência... Do contrário, fica-se na berlinda do mercado de trabalho, por não ter afinidade nem elo com o próprio mundo, pois a era da informação estabelece que saber mais é não se desconectar nunca, para, assim, não perder o ritmo dos fatos e seguir a subsequência das evoluções.

Se a Educação permanecer off-line, dificilmente conseguirá formar os cidadãos oriundos da Geração High-tech, que, aonde quer que vá, está integrada ao mundo, desde o café da manhã ao deitar... no caminho da escola, nas praças, nos shoppings, nas ruas... até nos automóveis, que já chegam ao mercado conectados às redes sociais... No entanto, ao atravessar os portões da escola, a desconexão é automática, pois todos os recursos disponíveis são ferramentas inaproveitáveis pela Educação... O seu único ponto de contato com o mundo é o laboratório de informática. Mas esse é um universo limitado... totalmente alheio ao seu mundo digitalizado, pois muitos caminhos que podem conduzir à aprendizagem são bloqueados.

Estar conectado não é afã nem tendência. Essa febre — que chegou ao nível de pandemia — se alastrará mais e mais. A escola precisa trocar a lente, pois, na nova década, a tecnologia preencherá o restante do espaço e atingirá os cem por cento da vida do homem. Ignorar essa realidade é subestimar a própria evolução humana cujas crianças e cujos adolescentes se tornaram subordinados à tecnologia. O boom tecnológico lançou desafios à Educação para formar a geração dos nativos digitais, e a escola não tem opção. Deve-se atirar na rede. Do contrário, ficará na contramão da vida, desplugada do planeta e, consequentemente, desconectada do aluno.

Em meio ao caos, o grande desafio: manter a escola conectada à vida do aluno.

Educadores resistem às tecnologias disponíveis à Educação com receio de enfrentar mudanças, afrontar o original. Muitos sequer sabem manusear um computador... Os ousados arriscam, e o ponto mais distante que chegam é acessar um site, fazer login, colocar a senha e ler os seus e-mails... Refletindo profissionais responsáveis por transformar vidas, mas de comandos limitados.

A sirene das disparidades soa gritante aos ouvidos. De tão insistente, incomoda. Porém, gestores e sistema repousam no merecido sono do comodismo e, de olhos vendados, não divisam que a valorização do condutor da Educação — o professor — é a primeira ligação, e esse comando não pode ser mais adiado, pois professor não é super-herói com poderes para fazer milagres. Educação é, terminantemente, o norte mais seguro para uma sociedade que almeja justiça para os concidadãos.

Os passos do desenvolvimento ganharam presteza, decolaram, chegaram ao ciberespaço... Internet 7G, tablet, smartphone despontaram como último alerta, lançando por terra os derradeiros tabus, ascendendo uma revolução social e cultural, a ponto de o multiculturalismo imperar como base de uma formação hodierna.

Tantos tremores, e o sistema não despertou. Atingimos o caos, e, nas atuais circunstâncias, reformular não suavizará o problema, pois o avanço é tanto que, para a escola acompanhar esse ritmo, é preciso desmoronar tudo e reiniciar do zero. A primeira ação deve ser conectar-se à vida do aluno, pois a tecnologia dominou o homem de tal maneira que se tornou um elemento essencial, do qual não abre mão.

A escola que ambiciona avançar configura o sistema do professor à placa-mãe do aluno, e espera-se que essa reprogramação aconteça o mais rápido possível, pois, a partir do instante em que o professor explora o ciberespaço como espaço de ensino-aprendizagem, a escola encontrará o caminho de uma Educação com conteúdos capazes de formar com criticidade e preencher o vácuo das diferenças entre as múltiplas identidades.


Os softwares que gerenciam esses recursos estão instalados e configurados. Não justifica o não agir, o não fazer, pois todos — sistema, governo e gestores — têm plena ciência de que o trabalho docente estabelece, acima do próprio salário, estrutura, apoio, respeito, reconhecimento e motivação para despertar o seu prazer de ensinar. Ensinar diferente seduz, atrai... Transforma... Aproxima e mantém o aluno conectado à escola. Esse é o link que o sistema de ensino deve ajustar para aproximar o aluno da escola.

A partir da construção dessa plataforma, aluno e escola terão a própria rede, pois o provedor — professor — interagirá com o moderno firewall do aluno cujo HD armazena dados, que se converterão em informações; e informações, em conhecimento. Com essa interação, ambos dominarão competências para traçarem caminhos, alocarem em sua plataforma multimídia outros universos na rede da escola e descobrirão juntos que aprender e ensinar são processos tão divertidos quanto bater um papo no WhatsApp, no Facebook ou enviar fotos via Instagram... Tanta sedução que não sentirão vontade de desplugar, pois a escola deixará de ser um espaço sem atração para se converter num universo que proporciona viagens fantásticas.

O ponto máximo desse processo — a conexão escola-aluno — abrirá a janela mais ambicionada por famílias, sistema, gestão, governo e professores: uma educação formadora, pois a profissão professor ganhará concorrência ao reconquistar o respeito. Somente os melhores terão vez, e os já engajados se certificarão de que ser professor é para mestres na arte de ensinar e aprender... Uma profissão de momentos fantásticos, pois a nova ótica vislumbrará o aluno como peça central e ensinar será um método desafiante que o auxiliará na construção do próprio conhecimento.

A partir dessa conquista, computador, tablet, celular, smartphone, Internet e redes sociais ganharão proporções dantescas e se converterão em ferramentas eficientes no processo ensinar-aprender, pois se transformarão em naves que seduzirão crianças, adolescentes e jovens e transportarão professor e aluno ao universo do novo.

Para tal é preciso ação! Redirecionar as buscas do sistema para o link que vincule a escola ao planeta dos seus alunos. Escola conectada é a que rompe paradigmas, toma mão das ferramentas tecnológicas para que a janela do aluno tenha acesso ao mundo, sem desconectá-la do seu universo pessoal. Escola conectada à vida do aluno não desliga seus radares, para não perder a vinculação com o novo e, assim, poder inserir a tecnologia como metodologia de aprendizagem... É essa troca, por meio do compartilhamento de experiências e conteúdos, que ensina, faz crescer.

É preciso ação! Não podemos permanecer presos ao “não feito”. A incursão tecnológica na escola revolucionou, determinando novas técnicas, novos caminhos... novas estratégias... Mas até onde computador e Internet mantêm a escola conectada à vida do aluno? Ambos arrastam o mundo para a órbita da sala de aula com um simples clique. Mas como usá-los como ferramentas pedagógicas e inseri-los no processo de aprendizagem?

É preciso ação. Remodelar a velha escola, substituir o quadro de giz por telão e data-show e acústica de qualidade; esqueletos encravados na parede, cobras e insetos em vidros com álcool são da geração de “botões e válvulas”, a moda agora é touch screen, para visualizar novas tendências, novas culturas, novas religiões, novos padrões sociais e novos sistemas familiares.

Dominar esses instrumentos colocará o professor lado a lado com o seu aluno, e ambos descobrirão que essa “parada” de mobile, redes sociais, smartphone... Instagram... É uma “viagem louca” pela rota do ensino-aprendizagem.

Acertando o norte, os propósitos se autodefinirão para professor e aluno, que encontrarão a rota que conduz ao saber mútuo, pois eles não necessitarão de intérpretes. Entenderão a linguagem do outro, pois lerão nas entrelinhas que é rox; estar na escola é trendy; e estudar, mara... Porém, só alcançará esse nível o professor que usar as mesmas ferramentas do aluno, “atk” nesse ponto que, sem margem de dúvida, passará a ser o “qrdo” da turma.

Assim, professor, não permita que o comodismo consuma a sua essência... Nem perca a batalha para a tecnologia. Tenha-a como aliada. Declare guerra às divergências, às imposições que transcendem a crise, como um propósito da escola, o seu maior desafio. Pois, nos últimos anos, as comunidades escolares estagnaram à espera de uma saída.

Sabemos que o conhecimento propicia sabedoria, mas sabedoria sem maturidade é nada mais do que um fardo, transportado por um ser sem estrutura, idealismo e perspectivas de sucesso. A tecnologia é importante, mas use-a para interagir com seu aluno, com outros universos. O calor humano, a parceria, a troca... ainda são o tempero para um bom desenvolvimento escolar.

Na era digital, o aluno encontra um especialista a cada clique, e são tantas as janelas que não perderão tempo em abri-las para facilitarem as buscas... A chave transita por todos os lugares: celulares, tablets... smartphones... Pois a rede mundial capta tudo, expõe tudo, a ponto de mestres como o Google caçarem a mais intrigada resposta no ponto inimaginável do planeta, pois seus baús abarrotados de informações transitam na rede com conteúdos fresquinhos... Se o que encontrar não for satisfatório, o aluno tem uma gama de especialistas dispostos a discutir qualquer assunto: WhatsApp, Face... Que encontram, aproximam as pessoas, matam saudades... Colocam o papo em dia... Essa é a realidade dos aborígines digitais que são aprisionados numa sala de aula sem atração... Mas, graças aos smartphones, modernos aparelhos de celular, e potenciais redes wi-fi, os alunos decolam para outros universos à procura de aventuras, deixando o professor plantado diante do patético quadro de giz, falando às paredes, pois seu aluno não perde tempo à espera de respostas, pois, antes mesmo de concluir, já as tem visualizadas.